IMPRENSA E O PODER JUDICIÁRIO

IMPRENSA E O PODER JUDICIÁRIO

Valentino Aparecido de Andrade

A imprensa norte-americana está envolvida em uma discussão que não é meramente acadêmica: a de se saber se chegou ou não ao fim a era da objetividade no jornalismo. Esse tema, de que fala  NELSON DE SÁ em sua coluna no jornal “Folha de São Paulo”, edição de hoje, conduz-nos a refletir sobre a relação que existe entre a Imprensa e o Poder Judiciário, quando estamos a cuidar da objetividade, imparcialidade e independência.

NELSON DE SÁ reproduz algumas respostas dadas pelo publisher do jornal “New York Times”, A. G. SULZBERGER, quando lhe foi perguntado se a era da objetividade no jornalismo norte-americano havia acabado, e ainda no mesmo contexto, o que ele pensava sobre o conceito de imparcialidade e sua aplicação prática, sobretudo a partir de uma observação feita em 1922 por WALTER LIPPMAN, em que o famoso escritor norte-americano enfatizava que os jornalistas não devem servir a uma causa, por melhor que ela seja. SULZBERGER tratou de obtemperar que o fato de um jornal servir a uma causa (a da democracia liberal, por exemplo) não infirma o princípio da independência.

Devemos refletir, pois, sobre esse tema, aplicando-o também ao Poder Judiciário, porque também se deve exigir que o juiz seja objetivo, imparcial e independente, tanto quanto o devem ser o jornal e o jornalista. Com efeito, não pode o juiz, no exercício de sua atividade jurisdicional, servir a qualquer causa, ainda que a mais justa, como também se lhe veda, por natureza, que utilize de sua função para atuar com uma desmedida subjetividade, em que o predicado da sua independência esteja sob risco. O que LIPPMAN escreveu sobre o jornalismo deve igualmente ser aplicado aos juízes em geral, pois. A única causa a que o juiz deve servir é a de cumprir as normas legais, delas extraindo objetivamente seu conteúdo e alcance mais ajustado à realidade material subjacente, tanto quanto deve o fazer o jornalista, se pretende ser imparcial, objetivo e independente.

Quando um juiz chama a si a função de corrigir as injustiças do mundo, modificando a seu talante o resultado da interpretação das normas legais, devemos nos precatar: ele pode ser tudo, menos um juiz sério e cumpridor de seus deveres. O mesmo se há dizer do jornalista, e por consequência do jornal em que trabalha.

A propósito da longa história do “New York Times” e da família SULZBERGER, fica a sugestão ao leitor para que percorra as páginas do revelador livro do escritor e jornalista, GAY TALESE, “O Reino e o Poder”. Ali, o leitor verá como nem sempre o jornal manteve-se em uma segura linha da objetividade, imparcialidade e independência, e o que resultou disso, com efeitos que se projetam sobre a nova geração dos SULZBERGER.