ELEIÇÕES DE ONTEM E DE HOJE

AS ELEIÇÕES DE ONTEM E DE HOJE
Valentino Aparecido de Andrade

Saboreando seu jornal diário, o leitor de nossos dias encontrará, dentre as notícias com certo destaque, as que dizem respeito a descompassos – chamemo-los assim – entre a Justiça Eleitoral e as Forças Armadas no que diz respeito à forma pela qual se podem e se devem contar os votos nas próximas eleições. Poderá supor o eleitor que o tema é novo, mas como já dizia Eclesiastes, nada é novo debaixo do Sol, e o tema das eleições não escapa à essa regra.

Comprovemos por uma deliciosa crônica escrita por MACHADO DE ASSIS em 24 de março do distante ano de 1895, em que tratou exatamente do mesmo tema, não propriamente de se contarem os votos pelo método manual ou pelo método eletrônico, mas de um tema algo parecido. Dizia ele:
“Não amando o sangue, temendo as incertezas da fraude, e julgando as eleições necessárias, como achar um modo de as fazer sem nenhum desses riscos? Formulei então um plano comparável ao gesto do meu criado, quando escova o chapéu às avessas. Suprimo as eleições. Mas como farei as eleições, suprimindo-as? Faço-as conservando-as. A ideia não é clara; lede-me devagar”.

E MACHADO caminha por aí, buscando engendrar uma forma pela qual se possam realizar as eleições, sugerindo até mesmo os palpites que o eleitor poderia fornecer, com o socorro de adivinhos, “incumbidos de segredar aos cidadãos os nomes prováveis ou certos”.

Mudam-se os tempos, mudam-se os homens, e muda até o mesmo o Código Eleitoral, mas o tema quanto à forma pela quais as eleições podem ser realizadas, esse tema é de ontem, como aliás o homem também o é, pois como dizia JÓ (8:9), “nós somos de ontem e nada sabemos”.